terça-feira, 28 de outubro de 2008

Cartas


Escreves-me cartas, sou o destinatário
da tua solidão. E sempre compreendo
tudo, mesmo o que não dizes, o que tinge
as entrelinhas de um branco desespero

que é tanto teu como meu: não tens
quem te salve, envelheceste, trataste mal
de um jardim que não chegou a vingar.
Se nos cruzássemos nas ruas desta cidade

entre desconhecidos de toda a sorte, talvez
nos sentássemos a falar da nossa vida, isto é,
de como vamos ficando cada vez mais orfãos
de nós próprios. Ou, pensando bem, talvez não.



Rui Pires Cabral, in Longe da Aldeia

1 comentário:

O QUATORZE disse...

Olá,Boa Noite
Estava atrasado na leitura, vim cá mas não tinha escrito.
Os bons textos continuam a encantar, aproveitei algumas frases para compôr.

Quem quer quentes e boas,
Como sabia bem tudo isso.
O meu coração é um jardim,
Depus a minha vida em ti.

Não ficou muito bem, ah ah ah
Amizade
LUIS 14
LUIS 14